uma noite de outubro

Sentada num balanço enferrujado, num parque velho, eu sinto a chuva cair por meus cabelos e escorrer por meu rosto. Mas ela não consegue cobrir o rastro quente das minhas lágrimas ou sangue frio de meus pulsos. E o gosto salgado do meu pranto não é capaz de tirar o teu gosto dos meus lábios. 
Por favor, só vai embora. Não adianta mudar de cidade, mudar o número de telefone, mudar de nome ou a cor do cabelo; se você não sai dos meus pensamentos. Eu fui embora, mas você ficou em mim. Eu me distanciei sem saber que isso apenas me aproximaria ainda mais dos meus sentimentos. Eu corri sem ao menos saber engatinhar. E quanto mais longe eu tentava ficar de você, mais grudado no meu coração você ficava. 
Eu só queria que você fosse embora. Não me importaria se você morasse na casa ao lado, se frequentasse a mesma igreja que eu, se fizesse compras no mercado da esquina ou se comparecesse às festas de família. Eu só gostaria, muito, que você fosse embora de dentro de mim. Que você partisse como eu parti, que você me abandonasse para sempre como eu tentei fazer, que me permitisse seguir em frente da mesma forma que eu tenho certeza de que você já seguiu. 
Não. Você não deixa. Sem me tocar, você me prende. Sem me abraçar, você me sufoca. Sem me beijar, você me queima. Pensando em você, eu me esqueço. Fugindo de você, eu me perco. E por ainda te amar, eu me odeio!

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